quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Dos dois lados do Atlântico.....

Há incríveis coincidências neste mundo. Estávamos há dias a discutir on-line sobre o nome do nosso próximo livro (o segundo produto da minha cooperação com o Brasil), e acordámos finalmente num: "Nos dois lados do Atlântico: trabalhadores, organizações e sociabilidades", apesar de nele constar um artigo sobre Moçambique, que não é propriamente no Atlântico....mas como diz a minha amiga Ida, que por uma vez a estética triunfe sobre a precisão...´.
Mas este post não é sobre arte e ciência, ou sobre estética e precisão, mas sim sonre coincidências, dos dois lados do Atlântico. Pois é, soube através do blogue da Ida que precisamente no mesmo dia, ambas tivemos acidentes estúpidos em que estupidamente nos tivémos que declarar culpadas. Postei no blogue dela um comentário, e foi ela que me convenceu a reproduzi-lo aqui.

"Que coincidência incrível….ontem fui para Lisboa a conduzir, pela primeira vez depois de tirar o gesso…o meu pé doia, mas não assim tanto, tinha ido à farmácia comprar um pé elástico para “enformar” o meu pé….percebi que a liberdade doi, depois de uma prisão prolongada (de gesso, entenda-se)…pois, e este meu batismo de condução pós-pé partido transformou-se num pesadelo….a chuva desabou sobre Lisboa e o trânsito ficou um caos…duas horas para sair da cidade (mais duas para chegar a casa a passo de caracol) e também bati com o carro…a porcaria de um arranhão que nem se vê…mas também tive que me dar como culpada, apesar de estar segura que o acidente se deu porque a outra condutora (era uma mulher também) acelerou quando eu fiz o pisca para mudar de via….só para não me deixar passar….que raio de sociedade em que temos que lutar por buracos no trânsito….todo/as stressados a ansiar chegar a casa porque temos mais mil e cem coisas para fazer…..também chorei ao volante e senti-me a criatura mais infeliz do mundo….com a roupa encharcada, colada ao corpo, a tremer de frio….
Depois cheguei a casa, tomei um banho quente, comi uma sopa quente, embrulhei-me em edredons de penas e camisolas de lã…e finalmente senti que era feliz…."

sábado, 29 de janeiro de 2011

José Gil e a inscrição da depressão

Devo dizer que li com muito interesse o livro de José Gil, Portugal Hoje: o medo de existir, quando este foi publicado, e achei a sua tese da não-inscrição bastante elucidativa de uma série de características, ou digamos....recorrências.... nacionais. A não-inscrição própria da nossa maneira de ser coletiva seria responsável pelo facto de "deixarmos andar" sempre tudo, pois não nos inscrevemos, ou seja, nunca aderimos resolutamente a nada.

Na altura em que li o livro, achei a tese interessante, embora já então tenha considerado que o autor só via a parte negativa dessa não-inscrição, esquecendo-se que ela talvez contribua para a nossa imensa maleabilidade e a nossa capacidade diplomática.....a qual, nos nossos dias, me parece de valor inestimável.

Mas isso já foi há muito tempo....volto a José Gil porque li na Visão desta semana uma crónica sua sobre as eleições presidenciais....confesso que já há bastante tempo que não leio o que escreve, por achar repetitivo e por demais deprimente...mas resolvi ler desta vez porque a dada altura o filósofo falava de uma imposição europeia em relação à avaliação de desempenho em Portigal e fiquei curiosa, sobre o assunto e sobre a sua opinião. Mas sobre a questão da avaliação não havia mais do que algumas linhas e não foi isso que me motivou a escrever....mas sim a linguagem utilizada por José Gil, de cujo texto transcrevo algumas passagens:

«As eleições passaram como se nada tivesse acontecido. Voltou tudo ao mesmo, quer dizer, às dificuldades concretas da vida, às apreensões quanto ao futuro e ao cansaço sem esperança do presente. (...) Estamos mais fracos e mais sós (enquanto átomos sociais), com mais medo das forças exteriores e interiores que nos ameaçam. (...) A descrença quebra o desejo e a confiança em si. (...) Sentimo-nos sós e vivemos sem referências, impotentes, sem ajuda, cada vez mais fechados inutilmente em "nós mesmos", um "nós" que perde dia a dia a sua substância. (...) Aliás a "solidão" que se está a desenvolver não vem apenas do estilhaçamento dos laços comunitários, mas dos múltiplos impasses a que as pessoas se veem condenadas.»

E prossegue sempre no mesmo tom.....

Acabei de ler a crónica e arrependi-me de imediato de o ter feito....estava tendencialmente deprimida e sobretudo um bocado revoltada.....


Que treta!!! Qual é a ideia de cavar mais fundo? De meter toda a gente a chorar, a arrepanhar os cabelos, a considerar-se a criatura coletiva (pois estamos a falar dos portugueses enquanto coletivo nacional) mais desgraçada do mundo?

Estou farta de ouvir toda uma pretensa elite intelectual nacional - aliás sobretudo lisboeta (atenção que não é despeito, porque eu também sou) - chorar pelos cantos (reais e virtuais)....aliás sempre os mesmos....sem ver que existe um país a lutar com garra por sobreviver e prosperar, por criar riqueza e alternativas de vida....com imensos projetos que realiza de facto, com mais ou menos meios, que resultam de forma inesperada - como é óbvio, pois nada nunca resulta da forma como foi planeado - mas resulta....e isso é que importa.

Onde estão os jornalistas, os bloguistas, os pensadores, os analistas capazes de revelar e valorizar quem luta de fato por melhorar a sua vida e a dos outros, com esperança, com alegria, com prazer....e com dúvidas e com tristeza e com desepero é claro....pois isso faz parte da vida?

Na verdade, depois de ler a crónica de José Gil pensei....talvez a única inscrição que os nossos arautos da desgraça e do desânimo nos permitem, é a inscrição da depressão.

Por falar em competitividade.....uma forma peculiar de interpretar o modelo de Hersey e Blanchard

Para quem não sabe, o modelo de Hersey e Blanchard classifica os tipos de liderança cruzando-os com os tipos de liderados. Ou seja, em vez de pretender que existe em absoluto um melhor tipo de líder, presume que o líder deve adaptar o seu comportamento ao tipo de liderado, sem querer com isso dizer que não se deva esforçar por incrementar a chamada maturidade do liderado. O modelo apresenta quatro níveis de maturidade do liderado, a mais baixa, que representa o que não tem nem capacidade nem vontade (ou seja, a desgraça total), um outro nível logo a seguir, que representa o que não tem capacidade, mas até tem vontade (digamos que é o bom rapaz ou rapariga, mas pouco dotado/a), depois vem o nível do que tem capacidade, mas não tem vontade (aqui estamos perante o/a rebelde) e finalmente, o nível mais alto e mais desejável de maturidade, o do subordinado com capacidade e vontade.


Normalmente, este último nível representa o profissional autónomo, altamente qualificado e motivado, com uma elevada consciência de auto-eficácia, criatividade e iniciativa.

Há dias, foi-me sugerida uma outra interpretação.....assaz peculiar.....o subordinado maduro seria o disciplinado.....

Por falar em competitividade.....estará Max Weber feliz ou às voltas no túmulo?

Agora, que estamos mais uma vez em crise - ou a atravessar uma zona de particular turbulência no nosso eterno estado de crise - fala-se muito de produtividade e competitividade (que não é exatamente a mesma coisa - pode-se ser muito produtivo e nada competitivo, pela simples razão de que se pode produzir muito e ninguém querer comprar o que produzimos). Em geral, somos acusados de preguiça e auto-flagelamo-nos por isso, ou assumimos uma postura de alguma arrogância defensiva, ou então dividimos o mundo em bons e maus e acusamos os ricos de maus e os pobres de bons, indiferenciadamente. Tudo isto para introduzir umas quantas "magníficas" jóias da nossa vida organizacional, pública ou privada, porque, a bem dizer, nunca reparei que houvesse grande diferença na gestão de umas e de outras.


Há dias, alguém, numa empresa privada, sugeriu escrever uma carta à administração para esta autorizar formalmente uma troca de mesa de trabalho durante uma tarde, quando a referida troca já tinha sido informalmente autorizada pela parte interessada.

No mesmo dia, um telefonema de uma entidade pública, pedia permissão para reparar um erro num processo. A voz da funcionária sugeria uma situação grave, tratava-se de um documento entregue a mais, e que se não fosse retirado com permissão expressa, teria que seguir as vias pré-definidas o que levaria a um atraso substancial e à emissão de um ofício enviado para notificação por correio registado. Tudo por causa de um papel a mais....

sábado, 8 de janeiro de 2011

Em defesa do Serviço Nacional de Saúde...

Confesso que às vezes, quando tudo corre às mil maravilhas, ouço falar sobre o Serviço Nacional de Saúde e permaneço meio apática, como se a coisa não me dissesse realmente respeito, embora deteste quando ouço dizer mal por dizer mal....

Pois é, ontem parti o pé....e fui atendida, primeiro no pequeno Hospital de Tondela e depois no Hospital de Abrantes. Em ambos fui otimamente tratada por todos os profissionais que neles trabalham, enfermeiras, auxiliares e médicos.....fiquei até comovida quando ontem à noite me vieram trazer uma sopa, um iogurte e dois pacotinhos de bolacha maria, para aconchegar o meu estômago vazio.

Agora estou de pé engessado e assim ficarei nas próximas quatro semanas e tenho que aprender a olhar a vida do alto de umas muletas...com as quais ainda não sei andar...mas sei que vou conseguir fazer com elas, tudo o que teria que fazer sem elas.....

Além disso, apesar da queda que me deixou com mobilidade reduzida, ontem foi um dia feliz....a minha aluna de mestrado defendeu a sua tese com Muito Bom e ofereceu-me um ramo de flores que até merecia uma fotografia - mas agora estou preguiçosa para o fazer - e um cartão que me fez chorar de alegria....e isso é que realmente importa. Quanto ao pé....há-de sarar!

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Flores para Iemanjá....amizade, ciência e orixás....

A minha amiga Cristina lançou flores brancas para Iemanjá em meu nome e em nome da Ida, nossa amiga comum,  nas águas do Rio de Janeiro na passagem do ano....

Assim foi selada uma amizade e reforçada uma equipa de trabalho virtual.....

Vamos agora trabalhar, fazer ciência, sob os auspícios da senhora das águas....normalização e método científico ao abrigo dos orixás.....adoro o sincretismo!

A propósito, a fotografia é da autoria de Vanda Ferrão, que tem uma coleção incrível de fotos de flores e não só.....que vai publicando no seu perfil do Facebook para deleite dos nosso olhos. Eu acho que ela devia fazer uma exposição.....

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Réveillon em Santarém...o melhor fim de ano de sempre....

Inesperadamente, quase sem vontade...lá organizei uma festa de fim de ano a dois...são as vantagens de ter filhas crescidas. Perguntei-me durante todo o dia o que havia a comemorar, e para quê celebrar a entrada de um ano que todos tememos....tipo, que mais irá acontecer????

Mas fui ao supermercado, comprei camarão (que não sei bem a que propósito se transformou em "tradição" de Ano Novo) e, antes da meia-noite estava na rua, em Santarém, com uma garrafa de champanhe, duas flutes de plástico e passas - que eu não sou lá muito crente, mas já agora, não custa nada exprimir interiormente uns quantos desejos...até pedi a uma amiga brasileira que foi passar a noite de fim de ano ao Rio para deitar por mim flores para Iemanjá....ando a precisar de proteção de todos os quadrantes :).


E depois foi o começo do delíirio....para começar o fogo de artifício...há muito tempo que não assistia a um espetáculo de fogo de artifício com vontade de apreciar....de coração aberto, como uma criança espantada com as luzes, as cores, a música...

Depois fomos procurar a anunciada orquestra Santos Rosa....uma verdadeira relíquia....uma big band à antiga....parecia saída dos interlúdios do canal Mezzo, mas colorida....

http://www.youtube.com/watch?v=lh7bxzdILsU

Dancei duas, três horas seguidas? Não sei. Dancei tudo, como me apetecia....o corpo movia-se ao compasso das músicas, sozinho....como se o som me tivesse possuído por completo...uma sensação única de alegria. Dancei sem saber dançar, valsas, boleros, tango, até paso doble, claro....ou não estivéssemos em Santarém....e aquele jazz clássico, tipo Cotton Club....o melhor de tudo....

Gostaria de crer que as boas entradas signifiquem também bons augúrios para o ano que agora começou....vamos a ver.....